Avanços femininos conquistados no mercado de trabalho

A mais recente edição disponível, de 2021, da Síntese de Indicadores Sociais, coordenada e divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), demonstra que as mulheres integram cerca de 52% da população brasileira em idade de trabalhar, ou seja, acima de 14 anos de idade.

Fator que, infelizmente, nem mais surpreende é que a proporcionalidade é prejudicada quando verificamos a segregação da população ocupada. De acordo com a base de dados, no ano de 2020 elas formaram uma fatia ligeiramente inferior a 42% dos postos de trabalho ocupados, independentemente se formais, informais, autônomos, empresariais, ou qualquer outra forma de alocação da mão de obra.

Não me parece característica feminina a análise do cenário pela ótica da vitimização, mas, essencialmente pela virtude da franca evolução conquistada ao longo dos anos.

Apenas no curto período de tempo de 2012 a 2019 as mulheres conquistaram (no verdadeiro sentido de mérito) 1,2 ponto percentual da participação sobre as ocupações, que saltou de 41,57% para 42,77%. Se esticássemos tal análise para partir de um período mais distante de nossa história, diante de tantas mudanças socioeconômicas e culturais atravessadas, certamente falaríamos de uma conquista de padrões heroicos.

O que poderia falsamente indicar um número simplista, de “apenas” 1,2 ponto percentual de conquista, significa, na verdade, o reconhecimento da aptidão da mulher às mais variadas atividades produtivas de nossa sociedade.

Com o salto da participação ocorrendo paralelamente ao ciclo das maiores inovações nas carreiras e profissões, podemos assistir à presença feminina permeando os mais variados segmentos profissionais, todos absolutamente louváveis. Deixaram para trás o predomínio masculino, seja ao assumirem a responsabilidade de conduzir um lotado ônibus urbano no trânsito carregado de uma capital, ou ao ocuparem com naturalidade uma cadeira de CEO.

São apenas dois modestos exemplos, que já podem nos mostrar o quão obsoleta ficou a imagem produzida de uma mulher voltando do trabalho do escritório, por vezes até estereotipada pela preocupação com o jantar da família. Definitivamente, o papel feminino no mercado de trabalho é muito mais abrangente!

Já o ano de 2020 traz uma surpresa que, se penaliza por um lado, traz importantes elementos diagnósticos.

Em plena pandemia, a participação delas no mercado caiu, de 42,77%, em 2019, para 41,74%, praticamente anulando toda a conquista desde 2012. Sinal inequívoco de que o papel de cuidar dos filhos, sem aulas durante a fase de incertezas, ainda é visto como de titularidade da mulher, de quem também é cobrada a obtenção de renda se quiser algum grau de independência.

Por outro lado, sob o imenso desafio da educação no Brasil, começa a ganhar corpo a discussão da escola de tempo integral, como já é realidade antiga em muitos países desenvolvidos. Mas tempo integral não como um espaço para apenas entreter crianças ou liberar tempo da mãe, mas como opção de qualificação e preparo das crianças em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo.

Isso quer dizer que até para o obstáculo plantado da divisão entre lar e trabalho a evolução social pretende apresentar correção.

Não resta dúvida, portanto, de que está todo ao lado do segmento feminino o maior potencial evolutivo no mercado de trabalho. As futuras análises mostrarão.

 

Texto elaborado por Ricardo Buso, economista pós-graduado em Administração de Marketing pelo ISCA (Limeira / SP), com carreira desenvolvida no agronegócio com larga experiência na área Financeira e gestão de operações em Bolsas de Futuros, no Brasil e no exterior. Coordenador de Comitês Multidisciplinares direcionados para Gestão de Risco. Atualmente ocupa o cargo de Assessor Especial da Presidência da Câmara Municipal de Piracicaba.

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